domingo, 10 de abril de 2011

“Um passo de cada vez”: Vídeo conta história do Centro de Saúde Costa e Silva e a participação da comunidade na política pública


Márcia Ortiz Monteiro Teixeira de Camargo -
Coordenadora do Posto de Saúde da Vila Costa e Silva.




Foto: primeira Antigo Posto de Saúde da Vila Costa e Silva , segunda Consultório Movel - diante da antiga sede do Conselho de Moradores da Vila Costa e Silva. Acervo: José Luís de Oliveira
(Zélus) - Presidente do Conselho de Moradores da Vila Costa e Silva. Foto:Márcia Ortiz Monteiro Teixeira de Camargo.

A Vila Costa e Silva foi um dos primeiros conjuntos de casas populares construídas em Campinas, na década de setenta. A conquista de melhores condições de vida, com escolas, transporte e saneamento básico é fruto da mobilização de seus moradores, desde a formação do bairro”. O texto entre aspas é a sinopse de “Um passo de cada vez – O despertar da cidadania”, um documentário de Gislaine Raposo e Juliana Siqueira, realizado com o Programa de Pedagogia da Imagem do Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas. (Clique aqui e confira declaração da Gislaine acerca desta produção)

“Neste filme, as lideranças locais relembram algumas de suas lutas na área da saúde, como o combate à epidemia de esquistossomose e a construção de um centro de saúde, que chegou a ser o maior da cidade”, segue a descrição do vídeo. “Este documentário é resultado do trabalho de conclusão de curso de graduação em Enfermagem apresentado por Gislaine Raposo à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, intitulado “Participação Social no Sistema Único de Saúde: memórias de lideranças locais no município de Campinas – SP”, sob orientação da Profa. Dra. Eliete Maria Silva”, conclui a sinopse.

A equipe recebeu a reportagem da “Carta da Saúde” minutos antes da abertura da última eleição do Conselho Local de Saúde (CLS) do Costa e Silva. Na sequencia, confira entrevista com a coordenadora do Serviço, Márcia Ortiz Monteiro Teixeira de Camargo.

Carta da Saúde – Márcia, qual é a história deste documentário? Como que ele surgiu e qual é a proposta?

Márcia Ortiz Monteiro Teixeira de Camargo: Recebemos como estagiários estudantes de vários cursos da Unicamp, como enfermagem, medicina, fonoaudiologia e, neste caso, o documentário surgiu através da proposta das alunas do quarto ano de enfermagem, que tinham que realizar um trabalho de conclusão do curso, o TCC. Assim, a Gislaine propôs como tema para o trabalho dela, as conquistas desta comunidade, do controle social. Então, junto com a Juliana Siqueira, que é do Museu da Imagem e do Som, o MIS, realizaram um documentário mostrando a importância do Controle Social e, como conquista desta população, este espaço, que é o Centro de Saúde. Aqui, para este local em que hoje nos encontramos, estava planejada uma praça! A proposta inicial é que o Centro de Saúde iria sair de onde estava, uma casa adaptada, para uma outra casa, também adaptada, onde seria feita uma reforma para mudar algumas coisas… Depois foi sugerido um outro espaço publico que existe aqui no bairro, onde hoje está o abrigo Renascer, e que é um abrigo da Assistência. A população se mobilizou porque considerou que a reforma seria insuficiente. E não era isso que eles queriam! A população queria um Centro de Saúde de verdade. Conseguiram fazer a planta do serviço, o doutor Vicente, na ocasião, era o coordenador, inclusive neste documentário, parte das imagens são dele, como a da primeira estaca quando começaram a construção, os primeiros tijolos. Ele havia guardado as imagens da época, e por isso ele é um dos entrevistados. Ele faz parte desta história. E os conselheiros, os mais antigos, também foram entrevistados aqui. E também os jovens! Porque nós conseguimos, agora, ter jovens no Conselho Local. Inclusive, quando eles foram eleitos houve uma certa dificuldade, pois era um fato novo. A gente pediu orientação ao Conselho Municipal de Saúde para lidar com a situação. Agora fazem parte do Conselho Local como qualquer outra pessoa adulta. Hoje é dia de eleição aqui na unidade. E um desses meninos se recandidatou ao Conselho Local. Trazer os jovens para dentro do Centro de Saúde é uma coisa muito difícil, não só em Campinas, mas em todos os lugares.

Carta – Quais os benefícios que esta conquista da comunidade trouxe para os usuários, trabalhadores e gestores do SUS?

Marcia: Primeiramente porque é um espaço adequado. É muito adequado à demanda. Há três anos atrás passamos por uma reforma deste espaço, por conta do projeto Pró-Saúde do Ministério da Saúde. Nós fizemos uma parceria com a Unicamp, o que nos permitiu viabilizar o Projeto Pró-Saúde. Então o nosso Centro de Saúde que já era bom passou por uma grande ampliação, melhoramos, qualificamos algumas coisas, adequamos melhor o espaço e com isso a gente acredita que o Serviço ficou bom. Essa questão da ambiência faz toda a diferença. O ambiente onde a pessoa é acolhida, o ambiente onde a pessoa pode acolher, isso faz toda a diferença tanto para a população quanto para quem trabalha na Saúde. Muda o jeito como a pessoa entra no Serviço de Saúde, no Sistema. Já tínhamos o espaço adequado, mas com o passar do tempo é preciso manutenção e muitas vezes novas adequações. Com a parceria com a Unicamp nós pintamos, ampliamos o número de consultórios, melhoramos os banheiros. Foi uma reforma grande. Mas as melhorias feitas ficam aqui. Este é o espaço do Centro de Saúde desta comunidade. A nossa Recepção hoje funciona com três espaços de Acolhimento. A gente conseguiu ter uma ambiência bem mais adequada. Hoje os usuários se sentem donos do espaço. O que a população usuária do SUS sente é que existe um preconceito. Que a gente faz saúde para pobre. E que pobre aceita qualquer coisa. E não é nada disso.

Carta da Saúde – Como é trabalhar assim?

Márcia: Por um lado não é fácil operar um Serviço em plena reforma. Imagina só, a obra acontecendo e todo mundo trabalhando simultaneamente à ela. Não foi fácil.

Carta da Saúde – Para qualificar a relação com as várias instâncias do Controle Social, o que você diria à Rede SUS Campinas?

Márcia: O que eu fico pensando é que neste espaço aqui… O Centro de Saúde surgiu junto com a Vila Costa e Silva e com a Vila Miguel Vicente Cury. E o Centro de Saúde, aqui neste local, foi conquistado passo a passo, como deixa claro o título do filme. Não foi nada fácil. Primeiro a população reivindicou e conseguiu o Centro de Saúde, depois, na mesma época, a primeira auxiliar de saúde para trabalhar… Essa mobilização vem desde que este Centro de Saúde era um postinho. Nós estamos neste espaço há treze anos, mas o Serviço existe há 33 anos. É uma conquista da população. A população tem muita força. E eu considero que se ela luta por algo que é de interesse público, os gestores vão entender que é uma luta por uma necessidade. É acolher a reivindicação e mostrar à população como é que as coisas são feitas na Saúde Pública e como podem fazer para se organizar e continuar melhorando os serviços públicos. Nesta parceria, o SUS pode mostrar à comunidade como solicitar as melhorias que no final vão beneficiar o usuário, o trabalhador e o gestor.

06/12/2010 por suscampinas

1 Comentário

[...] “Um passo de cada vez” é um vídeo documentário que resgata a memória das lideranças da Vila Costa e Siva registrando algumas de suas lutas na área da saúde, como o combate à epidemia de esquistossomose e a construção do Centro de Saúde. Acompanhe a entrevista com Márcia Ortiz Monteiro Teixeira de Camargo, coordenadora do Centro de Saúde Costa e Silva, que nos conta sobre esta iniciativa, na Carta da Saude. [...]


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